A prefeita Débora Régis (União Brasil) completou esta semana 100 dias à frente da Prefeitura de Lauro de Freitas sob um cenário político marcado por instabilidade, promessas descumpridas, disputas internas e críticas vindas de todas as direções — inclusive de aliados que ajudaram a construir sua vitória nas eleições de 2024.
A proposta de renovação, que trouxe expectativa a diversos setores, começa a se desgastar diante de uma realidade marcada por quebras de acordos, reorganização de forças no Legislativo, protestos de servidores, e pressão de aliados excluídos da estrutura de poder.
Nos bastidores, as principais tensões surgem da tentativa de Débora de equilibrar interesses conflitantes de figuras centrais de sua campanha. Um exemplo é o vereador Juca, que foi contemplado com a presidência da Câmara Municipal, mas teve o PSDB excluído da ocupação de uma secretaria, contrariando o compromisso inicial firmado no arranjo político.
Essa decisão também afetou outro aliado, o vereador Sapucaia, que segundo fontes, deveria ter assumido a presidência da Câmara. No entanto, o acordo foi atropelado em prol de Juca — e, para contornar a insatisfação, Sapucaia foi nomeado secretário da SEMOB, embora ainda não tenha deixado oficialmente a prefeitura, e articule seu retorno ao Legislativo, o que deverá retirar o suplente Fausto Franco.
Já o vereador Tenóbio, que mantém um discurso crítico à gestão, embora tenha sua esposa nomeada como secretária e outros familiares e aliados alocados em cargos, age como se ainda estivesse na oposição, gerando ruído dentro do próprio grupo.
Outro nome que vive um impasse interno é o vice-prefeito Mateus Reis, que abriu mão de sua pré-candidatura para compor a chapa com Débora. Prometido para uma secretaria de destaque, acabou sendo alocado na Secretaria de Cultura, o que é visto por aliados como uma desvalorização política de seu papel.
Figuras que estiveram próximas do núcleo eleitoral de Débora também se afastaram da gestão. É o caso de Mauro Cardim, que chegou a articular sua pré-candidatura pelo PP e hoje é um dos mais contundentes críticos do governo nas redes sociais e bastidores.
Outro nome importante que se afastou da gestão foi o deputado federal Capitão Alden (PL), que havia declarado apoio à candidatura de Débora Régis e tinha forte influência sobre a Secretaria Municipal de Segurança Pública. Segundo fontes próximas, o parlamentar teria articulado a indicação de nomes para a pasta e se comprometido a destinar mais de R$ 1 milhão em emendas parlamentares para estruturar a segurança no município. No entanto, com a quebra do acordo político após a eleição, Capitão Alden se distanciou do governo e retirou o envio das emendas, o que representa não apenas uma perda financeira relevante para a cidade, mas também mais um sinal de isolamento político da prefeita dentro do próprio campo que a apoiou nas urnas.
Outro foco de desgaste vem da categoria dos professores, que desde o primeiro dia de mandato tem feito cobranças públicas à prefeita. Foram 100 dias de protestos, greves e manifestações, especialmente após cortes salariais, ausência de diálogo efetivo e falta de ações concretas na área da educação — um dos pilares de sua campanha.
Os fantasmas da gestão anterior ainda assombram
Além das divisões internas, Débora ainda convive com heranças da gestão Moema Gramacho. Um dos pontos mais sensíveis é o não pagamento de salários referentes ao mês de dezembro de 2024, que afetou funcionários que trabalharam até o fim do mandato anterior.
Sem solução até agora, o caso tem gerado insegurança jurídica e financeira para os servidores, além de comprometer a imagem da nova gestão como alternativa ética e técnica ao passado.
A prefeita, que chegou ao cargo com capital político significativo, vê esse apoio inicial ser corroído pela falta de articulação, promessas não cumpridas e dificuldade em consolidar uma base sólida e leal na Câmara.
Com o Legislativo fragmentado, aliados divididos entre interesses pessoais e lealdade institucional, e uma sociedade civil cada vez mais mobilizada, Débora Régis inicia seu governo sob forte pressão, tanto de dentro quanto de fora.
Ainda há tempo para reorganizar a gestão e estabelecer uma agenda concreta de entregas. No entanto, os primeiros 100 dias sinalizam que o desafio será maior do que o imaginado — e que só capital eleitoral e apoio partidário não bastam para governar uma cidade com problemas históricos e grupos políticos tão diversos.
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