O período eleitoral no Brasil se transformou em um espetáculo superficial, vazio de propostas e repleto de estratégias de entretenimento que desviam a atenção do que realmente importa. Caminhadas e carreatas, por exemplo, que deveriam ser momentos de aproximação entre candidatos e eleitores, se tornaram desfiles de escola de samba, com seus carros alegóricos e destaques, ou parecem blocos de carnaval, como os que desfilam pela Barra em direção à Ondina.
Nas redes sociais, os memes ganham mais atenção do que os planos de governo, enquanto brigas e intrigas políticas dominam as conversas em bares e nas esquinas das cidades. É surreal que, numa eleição tão importante como a da maior cidade do país, todos saibam que Datena deu uma cadeirada em Pablo Marçal, mas quase ninguém esteja familiarizado com as propostas dos candidatos.
Programas de rádio e TV estão saturados de direitos de resposta, fruto de uma campanha eleitoral marcada por ataques pessoais e um jogo sujo. Mentir parece mais vantajoso do que propor soluções, e atacar os adversários se tornou mais comum do que apresentar alternativas viáveis para os problemas da sociedade. Em algum ponto, a essência da campanha eleitoral se perdeu, e é evidente que o processo precisa de uma revisão profunda.
Os recursos destinados a essa máquina de superficialidade vêm do fundo eleitoral partidário. Chega ao ponto de vermos candidatos promovendo a si mesmos como "o mais bonito da cidade", usando ferramentas pagas de publicidade. Esse tipo de ação comprova o quão desorientada está a política atual, que parece seguir um rumo cada vez mais distante da seriedade que deveria ter.
Para quem viveu a era dos grandes comícios e discursos políticos de verdade, a conclusão é clara: houve um retrocesso significativo. A política precisou se rebaixar para se ajustar ao novo perfil eleitoral que prevalece no Brasil.
Cada vez mais, vemos políticos despreparados para o processo eleitoral. Não dominam a articulação política nem conseguem expressar ideias com clareza diante das câmeras. Ao mesmo tempo, "profissionais" de campanhas surgem para entrar nesse mercado competitivo sem a devida qualificação, que deveria ser baseada em estudo e metodologia. O caminho mais fácil para eles é jogar o nível da eleição para baixo, de modo que todos possam participar sem a exigência de preparo intelectual.
Se a política brasileira continuar refém desse espetáculo vazio, as eleições, que deveriam ser o momento de debates e construção de propostas, permanecerão como um show lamentável. Resgatar a seriedade do processo eleitoral é urgente. Caso contrário, a política se tornará cada vez mais irrelevante para aqueles que acreditam na força das ideias e na capacidade de transformação que uma eleição deve representar.
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