Com a proibição do uso de celulares nas escolas, inclusive no recreio e intervalos, a tendência é que, em casa, os adolescentes queiram ficar ainda mais tempo presos às telas, compensando o tempo de restrição. O psicólogo Renato Caminha alerta sobre esse possível “efeito colateral” e lembra que, mais do que as conversas, é o exemplo que define o comportamento das crianças e dos jovens. Ele falou sobre diálogo e empatia entre pais e filhos em um bate-papo online ao lado da escritora Thalita Rebouças.
“O modelo é a principal forma de transmissão de comportamento para os adolescentes, assim como para as crianças. Não adianta você falar o tempo todo que ele precisa deixar o celular e conversar com ele com a cabeça baixa, olhando para o seu aparelho”, alerta o terapeuta. “A mudança começa com os pais. O excesso de telas é um problema de saúde pública e temos que interferir sendo modelo.”
No bate-papo promovido pelo Colégio Santo Anjo, uma das principais instituições de ensino do Paraná, eles destacaram também a importância de criar momentos de “desintoxicação” em família, sem celulares. “Aqui, a arte e a cultura podem ser um grande aliado. É um momento para ler, ver algo juntos. Estar disponível de fato para essa troca”, sugere Thalita.
É preciso ter em mente que parte da socialização dos adolescentes acontece justamente nas redes sociais ou aplicativos de conversa e, por isso, o caminho não é simplesmente proibir. “Mas com um diálogo aberto e validante, não de julgamentos, os pais conseguem estabelecer os limites.”
A Diretora do Colégio Santo Anjo, Siona Boiko Alves da Silva, lembra que, mesmo antes da regulamentação, a orientação da escola era que os alunos não usassem o aparelho no período de aula. Agora, a comunicação está sendo reforçada e professores e alunos serão orientados sobre os procedimentos. “Estamos produzindo placas orientativas com a informação da lei e, nas reuniões de início de ano, orientando pais e alunos”, explica. “Caso algum aluno use o celular, o aparelho será guardado pela equipe e devolvido apenas para a família, para que haja essa reorientação.”
Tempestades cerebrais
A dupla de especialistas também falou sobre a importância de os pais terem informação, empatia e paciência durante o período de adolescência dos filhos. “É preciso ter clareza que é um momento de transição da infância para a vida adulta e de formação e consolidação de personalidade. E as tempestades cerebrais pelas quais os adolescentes passam são potenciais desreguladores emocionais”, explica Caminha. “Os pais também estão vivendo uma espécie de luto pela perda da criança. É transformador para todos.”
Para Thalita, é fundamental esse entendimento de que é uma fase passageira e de mudanças para todos. “Essa é uma hora em que eles precisam de colo e acolhimento. Mas que muitas vezes é justamente quando os pais se distanciam, mesmo que inconscientemente”, diz. “O grande desafio é não bater de frente, porque isso só provoca mais conflito. Os pais precisam promover uma escuta ativa e sem julgamentos. Porque muitas vezes, angustiados, querendo ajudar, eles acabam inclusive praticando bullying com os filhos.”
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